Lacieverso #20 || Hortênsias 8.3 - Desalento

Boas vindas, convidado! O clima continua bem quente, então espero que se hidratem!!! Hoje temos bubble tea com várias opções de chás e sucos, além de chás gelados e para quem for maior de idade, aquela cerveja geladinha que desce redondo!! Oi, eu sou Lacie, e deixe-me contar-lhe uma história.

Sem muitas novidades essa semana, apenas que alterei a programação de Hortênsias, agora que estamos nos aproximando do final! Decidi que a news receberá os capítulos antecipadamente, ou seja: vocês vão receber um capítulo a mais hoje! Ficará assim:

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As postagens acabam dia 22/12, que também é quando esta news tirará um pequeno hiatus para as férias de fim de ano, e devo retornar em algum momento em Janeiro, com as postagens de Sincronicidade começando em Fevereiro. Fiquem ligados!

É isso, vamos à história!

Hortênsias

CAPÍTULO OITO

DESALENTO

Saímos para o cinema, pegando o metrô dessa vez para chegar até a estação em que o shopping se localizava. Estava um pouco cheio, então fiquei de pé, mas Alex conseguiu um lugar para sentar, e tirara o caderno — o mesmo que usava para me desenhar — e começou a esboçar algumas pessoas do vagão em que estávamos.

— Não vai me desenhar? — provoquei.

— Não posso.

— Por quê?

— Meu professor reclamou que eu só tinha uma pessoa no caderno inteiro, e o objetivo do exercício era preencher o caderno de pessoas diferentes, para conhecer tipos de corpos diferentes.

— Entendo... Mas o exercício não era para semana passada?

Ele deu de ombros, sem querer continuar a falar.

— Alex...

— Ele me deu um tempo a mais.

— E a nota, não?

Alex deu de ombros de novo, e eu suspirei.

— Alex...

— Não se preocupe, sério. Eu ainda vou passar nessa matéria.

— E quanto a sua bolsa?

— Evito pensar em problemas até que eles se tornem um problema de fato.

— Não parece bom, evitar pensar em algo.

— As coisas eventualmente se resolvem. Agora... — Ele guardou o caderno na bolsa, e segurou na minha cintura, me fixando mais ao chão. — Vamos pensar apenas no cinema, ok? Que filme quer ver?

— Qualquer um está bom. De preferência uma sala sem muita gente...

— Jesse.

— Você gostou da última vez.

— Eu prefiro evitar ser preso por desacato.

— Qualquer um está bom, então. Pode escolher.

Os olhos dele brilharam.

— Bem, tem esse filme...

E ele continuou a falar sobre a premissa do filme durante todo o trajeto de metrô e caminhando, eu apenas seguindo fragmentos. Era o tipo cult que eu não costumava me interessar, mas se Alex ficaria feliz...

Entramos no cinema, e não estava cheio, mas tinha pessoas o suficiente para que eu não pudesse ocupar minha boca com outra coisa a não ser a pipoca que comprara para nós dois. Alex ficou completamente fascinado com a história, e em algum momento, vi até lágrimas se formando em seus olhos. Eu estava cansado, e passados trinta minutos — que pareciam uma hora inteira —, eu terminei meu refrigerante e resolvi me levantar.

— Vou comprar mais comida — avisei a Alex, que apenas me encarou, assentindo. — Volto daqui a pouco.

Andei pelos caminhos internos do cinema, e apesar de ser Sexta, por causa do horário tinham poucas pessoas andando por aí. Decidi ir ao banheiro antes de ir comprar o refrigerante — o contrário talvez fosse um pouco nojento. Quando estava lavando as mãos, senti uma presença perto, e um homem, talvez nos seus trinta anos, se aproximou, lavando as mãos na pia ao lado da minha, sendo que éramos os únicos no cinema.

— E aí, gatinho.

Eu revirei os olhos, mas... Estava entediado. Era tão ruim assim flertar um pouco?

— E aí, bonitão.

— Sozinho?

— Você está aqui, não está? — ofereci meu melhor sozinho. — Não posso dizer que estou sozinho dessa maneira.

— Entediado?

— Algo assim.

— Posso te mostrar uma coisa muito divertida...

— Hm.

— Não vai não.

Antes que eu pudesse responder, a voz de Alex ecoou pelo banheiro. Eu nunca tinha visto-o tão irritado — em geral, Alex controlava as suas emoções —, e até mesmo a raiva que sentira com seu colega de faculdade não parecia tão séria quanto ali. Alex avançou, indo em minha direção, ficando na minha frente contra o outro homem.

— Eh... Não sabia que o gatinho tem dono.

— Ele tem. Pode ir saindo antes que apanhe.

O outro homem olhou para mim, que apenas dei de ombros. Ele parecia muito pior sob aquela luz, e eu não dava para covardes. O homem saiu, e Alex se virou para mim.

— Você está bem?

Assenti, e ele me abraçou, se agarrando contra meu corpo. Sua voz saiu baixa e rouca.

— Você é meu.

— Não sabia que era tão ciumento.

— Jesse, não me provoque.

— O que vai acontecer comigo se continuar?

— Eu... — Ele baixou o tom, rosnando contra a minha orelha. — Eu vou ter que te punir, Jesse.

— Hm... Isso só me dá mais vontade de continuar...

— Idiota.

Mas o abracei, e o fiz se curvar contra mim enquanto ficava na ponta do pé para beijá-lo.

— Estou aqui, Alex. E não vou embora com ninguém além de você.

— Melhor mesmo. — Ele bufou, me pressionando contra o balcão. — Céus, que susto você sumir assim... Não faça mais isso comigo.

Apenas o abracei, não sabendo o que responder. Era óbvio que ele tinha algum trauma, mas... Eu não sabia o que responder, porque meu coração orbitava de felicidade ao ouvir aquelas palavras. Não que eu quisesse pertencer a alguém, mas a perspectiva de Alex me querer tanto assim... Era um pouco lisonjeiro, até. Eu ofereci meu pescoço para ele, dizendo:

— Me marque como seu, então.

E o beijo de Alex foi intenso, me fazendo gemer contra seu quadril, enquanto a marca vermelha que o espelho refletia era parte do quadro da minha pele cheia de roxos, verdes e azuis, todos criados por seus lábios.

— Vamos voltar? — ele ofereceu, depois de terminar.

— Sim, eu ainda quero comprar algo no entanto.

— Podemos ir embora.

— Ué, você não queria ver?

— Você não está entediado? — Desistindo, eu confirmei. Ele tomou a minha mão e me guiou para fora do banheiro. — Vamos dar uma volta no shopping, então.

Eu assenti, sorrindo, e enquanto tomávamos sorvete —

é inverno, Alex,

é mais gostoso assim, Jesse

nós dois ligados pelo calor de nossas mãos.

CAPÍTULO OITO

DESALENTO 

Quando o dia chegou, eu simplesmente dormi até o horário de sair para me encontrar com Alex e Dave. Iriamos nos encontrar no apartamento de Alex, e de lá partiríamos para a biblioteca pública em que o evento ocorreria. Não estava levando nada demais. Alex levaria lanches e cobertores. Dave disse que estava levando “sua mente afiada e um livro para acabar”. Eu e Alex ficaríamos com a parte da comida e apoio moral. Seria uma noite diferente.

Peguei meu celular que estava na mesinha ao lado na minha cama, carregando. Mais mensagens.

Kurt: Pare de me ignorar, puta.

E às vezes, eu só queria ignorar que a minha vida existia.

Não respondi, mas outra mensagem inoportuna apareceu em forma de uma batida na porta. Essa, infelizmente, eu não iria conseguir ignorar se eu queria sair ainda a tempo de não me atrasar.

— Jesse?

— Hn.

A porta se abriu, e meu gêmeo com um ar encolhido entrou. Era estranho. Um dia, eu já havia achado que nós éramos o espelho da mesma pessoa. Nós tínhamos as mesmas piadas internas, um alfabeto só nosso. Aí, quanto tudo aconteceu, e nos separamos, eu nunca soube me situar. Como um asteroide saindo da órbita do planeta. Eu e Chase não tínhamos mais coisas em comum. Eu nem sabia mais o que ele gostava ou não. E ele não sabia de nada da minha vida. Francamente, ele poderia passar anos sem falar comigo e seria a mesma coisa. A mesma frieza, a mesma distância. Não sabia se teria resultado.

— Oi. — Ele olhou em volta. O quarto dele tinha o mesmo tamanho, se não um pouquinho maior, porque tinha um banheiro suíte. Eu que tinha ficado com o banheiro do corredor porque vim depois. — Eu queria falar com você.

— Ninguém está te impedindo de falar as coisas para o ar.

— Ah... — Ele suspirou. — Por favor, não torne as coisas mais difíceis do que elas já são.

Eu não queria tornar as coisas difíceis, mas eu simplesmente não sabia como lidar. Chase olhou ao redor. Meu quarto era vazio. Não é como se eu não tivesse coisas, mas a maioria delas não estava ali, naquela casa. E não é como se eu pudesse reavê-las. E nem queria mais, a essa altura do campeonato. Era como se não fossem mais minhas.

— Eu queria conversar com você.

— De novo, você pode falar pro ar. Fale rápido, eu tenho horário para sair.

Ele revirou os olhos.

— Você recebeu o recado de Hayley?

Em algum momento, eu tinha. Mas não tinha registrado em momento algum, porque pior do que lidar com meu irmão gêmeo, era lidar com a minha meia-irmã. Porque isso significava que quem estava por trás era...

— Eu só queria avisar que eu não irei passar o Natal com eles.

E aquilo era definitivo, afinal.

— Bem, bom pra você.

— Você vai?

Aquilo era uma pergunta difícil. Respondi da melhor forma que eu sabia.

Dei de ombros.

Chase revirou os olhos de novo. Ele veio com passos pesados até a minha cama, onde eu não havia me levantado e estava ignorando olhar para meu reflexo esse tempo todo. Sentou-se ao meu lado, e falou, com as palavras emborcadas.

— Eu sei que não estamos bem..., mas eu queria dizer algo para você.

Não respondi. Porque o ar pesado da ciência do que viria apertou meu peito e prendeu meu fôlego, e eu sabia. Antes mesmo que ele abrisse a boca, eu sabia que palavras viriam de sua boca.

— Mitch... Mitchell. — Ele pigarreou. — Ele me pediu em namoro.

O quarto implodiu quando eu pisquei os olhos. De repente, Chase estava ali, e eu não estava. Estava no vácuo, e tinha me tornado uma supernova. Meu interior sugava a tudo, a mesa, a cadeira, meu notebook. Todas as letras do teclado voavam pelo ar, e o sorriso tímido de Chase me encorajavam a afundar na sensação de morte. Por um milésimo de segundo, eu desapareci, e não era eu mesmo. Eu havia morrido.

E quando o segundo passou, e voltei para a realidade,

meu irmão sorrindo

beijos trocados durante a madrugada

uma promessa

um sorriso tímido

 eu tive de dizer:

— Que bom para você, Chase.

Não sabia se existia algo parecido com um tornado na galáxia, mas me movia com forças que não sabiam existir dentro de mim. Meus tênis desamarrados me levaram para longe, e eu sabia

(eu vi)

Era como se gotas de chuvas caíssem em meus ombros e o frio penetrasse meus poros. A casa de Kurt era ali por perto... logo depois da...

(eu vi você cair)

— Você demorou, Jesse!

Ainda era Novembro, mas foi como se uma aura mágica e quente de Maio soprasse vida em meus pulmões. Olhei para o lado, para quem me chamava, e a vi novamente. Aquela pequena luz. E meus pulmões se encheram de primavera.

Meu olhar se abaixou, envergonhado. Alex estava sentado nas escadas da sua casa, um cigarro em suas mãos. Devia estar esperando há algum tempo. Eu mal me recordava que tínhamos planos, mas bastou vê-lo, e minhas pernas souberam para onde ir. Não era para a casa de Kurt que elas me guiavam.

Era aqui. Naquele pequeno apartamento.

Fiquei frente a frente com Alex.

— Vamos, que cara é essa? — E ele sorriu. Passou o braço pelos meus ombros, aquecendo-os. — Nossa, você está gelado!

— Está frio. — Dei de ombros. Tentava mais do que tudo conter os calafrios, a tormenta, o tornado.

— Você não trouxe uma jaqueta?

Ah. Na minha falta de memória, eu saíra de casa na pressa e nem vestira um casaco, ou algo do tipo. Era por isso que eu estava prestes a tremer e passar por calafrios. Bem. Eu nem estava sentindo alguma coisa, de qualquer forma. O frio era melhor do que sentir esse peso na minha consciência e coração.

— Eu dormi demais. — Foi a minha desculpa final.

Alex me encarou, e por um momento, temi que ele fosse perguntar mais alguma coisa. Mas ele simplesmente virou-se entrou em seu apartamento, e para o amontoado de roupas que ele chamava de guarda-roupa, e tirou um suéter laranja e felpudo.

— Se você não se importar, eu acho que vai ficar mais frio mais tarde...

Era no mínimo dois tamanhos maior, mas uma vez que passei minha cabeça pelo buraco, eu me senti um pouco melhor. Porque o suéter não tinha um mau-cheiro. Tinha exatamente o cheiro de todas as coisas de Alex: tinta guache, um odor de desodorante masculino e do xampu que ele usava. E quando ele segurou minha mão ao sair do apartamento para que pudéssemos buscar Dave, eu me senti um pouco mais aquecido.

Não estava tudo bem, mas não estava tudo mal, também.

— Vamos, ainda temos que pegar Dave. Ele já está me enchendo o saco mandando mil mensagens e querendo desistir de ir.

— Precisamos forçá-lo, então. — Com as mãos dele em meus ombros, me aquecendo, era fácil voltar a sorrir. Os problemas pareciam tão menores. E quando ele pegou minha mão, envolvendo-a com a sua, eu sabia que talvez, as coisas ficariam bem.

A calmaria antes da tempestade?? O que será que vem por aí? Amigos meus diriam que seria dor… Eu apenas fico ansiosa para ouvir seus comentários, seja aqui no beehiiv quando no meu curiouscat, se preferirem anonimidade. Comentários são mais do que bem vindos! Alimente esta autora com biscoitos! Alternadamente, sempre estou online no Kaleidocosmik. Venham fazer parte dele!

Até semana que vem,

Lacie

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